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Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

quarta-feira, maio 02, 2007

EXISTE POESIA NO SEU DIA A DIA?



Flávia Martins (*)

Escrever poesia. Desafio difícil? Não... Muito fácil na verdade. Deixe de lado as técnicas, métodos e métricas e simplesmente pense na vida com todas as suas cores, sons, cheiros e sabores. Comece a colocar essas impressões no papel. Como você descreveria o seu caminho para o cursinho hoje? Com quem encontrou? O que lhe chamou atenção? E então rabisque algumas palavras. Por exemplo: “Da janela do ônibus, a vida passa por mim como um filme, e as imagens comuns do dia a dia traçam um roteiro colorido de minha vida que hoje havia acordado em preto e branco...”. E como faria uma fotografia ‘por escrito’ de seu novo amor? “Lindos olhos negros que quase sempre tristes, fazem meu coração sorrir de alegria...”. Pronto!!! Você já pode se chamar de poeta!!! Porque poeta é aquele que consegue descrever em palavras o cotidiano; aí incluídos os problemas sociais, a história, a política, até o amor! Se formos ainda mais longe, podemos inclusive classificar os cantores de rap e hip hop como poetas da nova geração.

Depois dessas primeiras experiências, com um pouco de estudo e de treino, é possível sim passar a seguir algumas regras. Encaixar essas emoções em alguns estilos, seguir métricas, rimas... Mas somente se você achar necessário. Porque hoje em dia, é muito comum a adoção do estilo livre para a poesia que é simplesmente o que foi demonstrado acima.

E COMO TUDO ISSO COMEÇOU?
Fortemente relacionada com a música, a poesia tem as suas raízes históricas nas letras de acompanhamento de peças musicais. Isso porque até a Idade Média, a poesia era cantada. Somente depois de algum tempo o texto foi separado do acompanhamento musical. Tal como na música, o ritmo da poesia tem extrema importância. Na Grécia antiga a poesia foi a forma predominante de literatura.

Os três gêneros literários (lírico, dramático e épico) eram escritos em forma de poesia. Esses gêneros permitem uma classificação dos poemas conforme suas características. Por exemplo, o poema épico é, geralmente, narrativo, de longa extensão, grandiloqüente, aborda temas como a guerra ou outras situações extremas. Dentro do gênero épico, destaca-se a epopéia. Já o poema lírico pode ser muito curto, podendo querer apenas retratar um momento, um flash da vida, um instante emocional. No poema dramático, a história é contada através das falas dos personagens. As peças de teatro escritas em verso constituem forma de poesia dramática (tragédias, comédias e dramas). Com o passar do tempo, a narrativa foi tomando importância, ficando a poesia mais relacionada com o gênero lírico. Ainda hoje é feita esta associação entre poema, sentimentos e rimas.

UM POUCO SOBRE AS REGRAS DA POESIA
Há poucas décadas, a poesia tinha uma forma fixa: seus versos eram metrificados, isto é, levavam em conta os acentos, a contagem silábica, o ritmo e as rimas enquanto eram colocados no papel. A contagem silábica dos versos foi sempre muito valorizada até o início do século XX. Nessa época, a obra que não se encaixasse nas normas de metrificação não era considerada poesia. Isto mudou com a influência do Modernismo - movimento cultural surgido na Europa no início do século XX que buscava ruptura com o Classicismo, modelo que era seguido até então entre os artistas e que tem como característica principal a perfeição da forma. No Brasil, o marco do início do Modernismo é a Semana de Arte Moderna, que aconteceu em São Paulo, em fevereiro de 1922. Desde então, o ritmo dos versos foi liberado, dando lugar aos chamados "versos livres" que não seguem nenhuma métrica.

A rima é constituída de palavras ou partes de palavras que têm o mesmo som. Ela não era conhecida pela poesia clássica latina. Originário da língua árabe, este recurso poético só foi incorporado à poesia latina na Idade Média, como, por exemplo, no conhecido hino da liturgia da Igreja Católica Romana, intitulado Dies Irae. O poema pode ter versos rimados ou não. Quando há ausência de rimas, os versos são denominados brancos.

Além dos já citados Classicismo e Modernismo, muitos outros movimentos históricos influenciaram a artes plásticas e a literatura mundialmente. Nesse caso, podemos citar seus companheiros de aulas de história e literatura, como o Renascimento, Naturalismo, Parnasianismo, Realismo, Romantismo e Simbolismo.

ALGUNS POETAS...
São inúmeros os poetas que marcaram a história, sendo que muitos deles fazem parte de nosso dia a dia, com obras bastante atuais. Nessa viagem em que visitamos o passado e chegamos à atualidade, podemos citar nomes como os portugueses Luiz de Camões e Fernando Pessoa; o espanhol Quevedo; os mineiros Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes; o peruano César Vallejo; o catarinense Cruz e Sousa; o baiano Castro Alves; os ingleses William Shakespeare e T.S Eliot; o argentino Jorge Luis Borges; o americano Walt Whitman; os paulistas Oswald de Andrade e Hilda Hilst; o gaúcho Mário Quintana; os cariocas Cecília Meireles e Vinícius de Morais; os pernambucanos João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e Mauro Mota; o chileno Pablo Neruda; o alagoano Lêdo Ivo; o paraibano Augusto dos Anjos; e Cora Coralina, de Goiás.

... E SUAS POESIAS
Aninha e suas pedras, de Cora Coralina (Outubro, 1981)
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Autopsicografia, de Fernando Pessoa (1931)
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Cântico IV, de Cecília Meireles
Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo. Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

Navio Negreiro, de Castro Alves (1869)
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta. (...)

(...)Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos! (...)

(...)Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! (...)

Pronto. Após essa imersão no mundo da poesia, espero que ao menos a curiosidade de como seria a sua primeira poesia já tenha surgido. Sendo assim, separe papel, caneta, coragem... e mãos à obra!!!

DICAS DE SITES QUE PODEM SER CONSULTADOS SOBRE POESIA


http://www.sobresites.com/poesia/
Guia de Poesia na Internet – por Luiz Alberto Machado

http://www.algumapoesia.com.br:80/
Jornal semanal de textos avulsos, com autores de qualquer período histórico, lugar ou escola literária. – por Carlos Machado

http://www.revista.agulha.nom.br/poesia.html
Jornal da Poesia – por Soares Feitosa

http://www.prosaepoesia.com.br/index.asp
Apresenta novos talentos da Prosa e Poesia no Brasil - por Marcial Armando Salaverry

(*) Flávia Martins é jornalista e trabalha desde 2002 na Ketchum Estratégia, agência de assessoria de imprensa e relações públicas. Formada em jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo e pós-graduada em Marketing pela ESPM, trabalha na capital paulista há 11 anos. Ganhou o primeiro prêmio literário em 1987, em um concurso de redação infantil. É integrante do Grupo dos Poetas Amigos de São Vicente, com o qual já publicou quatro antologias, nos anos de 1999, 2001, 2003 e 2005. Também publicou seus poemas no Jornal “Colméia Literária".