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Esse blog é destinado a promover o debate de temas culturais e sociais, além de divulgar as ações realizadas por jovens moradores da comunidade São Remo, no bairro do Butantã (SP).

terça-feira, novembro 29, 2005

APÓS A 1ª FASE, O RITMO DEVE SE MANTIDO

Quem se aproxima da nota de corte anterior precisa manter estudo e não desanimar, dizem docentes

Alexandre Nobeschi e Simone Harnik (*)

A animação foi contida. Os três pontos acima da nota de corte do processo seletivo anterior não pareciam ser o suficiente para que a vaga em medicina na USP estivesse assegurada. A sensação de que a pontuação não era um bom resultado voltou quando a nota mínima da Fuvest 2005 -81 pontos, em medicina- foi divulgada pela fundação. Aliene Yayoi Ishihara Noba, 21, se conformou. Com o mesmo número de pontos que a nota de corte, a presença dela na segunda fase do vestibular estava praticamente descartada. No entanto foi surpreendida ao ver seu nome na relação de convocados para fazer a prova dissertativa. "Como não esperava a aprovação, fui bem tranqüila, como se fosse treineira", afirmou. A estratégia surtiu efeito. Aliene passou a figurar entre os 0,6% dos candidatos que, mesmo não tendo um rendimento excelente na primeira fase, conseguiram uma vaga na USP. Nesse meio tempo em que ainda não havia a certeza de estar na segunda fase, Aliene manteve o ritmo de estudo por conta das outras universidades nas quais iria concorrer. "Era a quarta vez que fazia vestibular. Já estava na hora de passar", desabafou a agora estudante de medicina.

O método é visto como o mais adequado pelos professores de cursinhos ouvidos pela Folha. "Se o aluno tiver rondado a nota de corte do ano anterior, é bom que ele continue estudando. Não dá para esperar sair a lista sem tomar providência nenhuma", afirmou o coordenador do Etapa, Carlos Eduardo Bindi. A recomendação foi seguida por Bruce Ye Man Chow, 19, calouro de medicina. Sua pontuação foi de 84 pontos na Fuvest 2005, seis a mais que a nota de corte do ano anterior. "Estava confiante", disse. Mas, ao ligar para colegas que estavam concorrendo na mesma carreira, pressentiu que haveria uma acréscimo na nota mínima para aprovação. "Sabia que iria aumentar, mas estava animado com meu resultado. Comecei a estudar muito mais", afirmou Bruce.

Embora o esforço dos estudantes antes mesmo de a nota de corte sair compense, o coordenador do Stockler Vestibulares, Almir Bunduki, destaca que o candidato deve controlar a ansiedade. "É recomendável que procure relaxar, mas continue estudando. É um bom momento para fazer uma revisão, porque também pode ajudar em outros exames." Era isso o que tinha em mente o hoje estudante de geografia da USP Fábio Custódio Costa, 20, na época em que contabilizou sua pontuação na Fuvest do ano passado. Com 58 pontos, dois a mais do que a nota de corte, ele aproveitou o período para se preparar para o vestibular da Unesp. "Mesmo achando que poderia passar na USP, também mantive o ritmo para tentar um vaga em outra universidade", disse.

Segundo ele, a rotina até o dia da segunda fase foi densa. "Ouvi muita gente dizendo que quem passava perto do corte era melhor nem ir para a prova. Tinha de acreditar em mim mesmo." Para isso Fábio teve de superar um desânimo inicial com seu desempenho na primeira fase. Ele fazia a Fuvest pela segunda vez. Na primeira, marcou 60 pontos. Na segunda, anotou 58. "Isso foi algo ruim de ultrapassar porque é difícil de entender que foi um ano a mais de cursinho para tirar uma nota inferior", afirmou. A "desvantagem" teria de ser compensada em mais estudo. Foi o que fez. "Passei o Ano Novo e o Carnaval estudando bastante." De acordo com Bindi, o fato de um estudante ter passado com a nota mínima mostra que, por mais complicado que seja, ainda há chances de passar. "Ficar em cima do corte é mais complicado, o candidato vai ter de se dedicar muito mais", diz o coordenador do Anglo, Alberto Francisco do Nascimento.

FUVEST PREVÊ QUE A NOTA DE CORTE SUBA

Coordenador do vestibular estima que o Enem eleve o número de pontos para convocação

Ainda é cedo para saber se a nota de corte da Fuvest vai crescer, se estabilizar ou cair, mas Roberto Costa, o coordenador do vestibular que seleciona para a USP, a Santa Casa e a Academia de Polícia Militar do Barro Branco, diz acreditar que o número mínimo de pontos para a convocação para a segunda fase suba. "Tenho a impressão de que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foi mais fácil neste ano para os alunos que prestaram a Fuvest. Isso pode aumentar a nota de corte", afirma. Na contramão dessa análise, está um levantamento elaborado pelo cursinho Etapa. Desde o final da primeira fase, anteontem, os candidatos interessados podiam, por meio do site do cursinho (www.etapa.com.br), colocar a nota do Enem e a da Fuvest e calcular sua pontuação.

Até o fechamento desta edição, 4.592 vestibulandos haviam preenchido seus dados. "As médias dos candidatos em 2006 estão cinco pontos menores do que as de 2005, bem semelhantes ao que foi a Fuvest de 2004. Isso indica que as notas de corte deverão cair", avalia o coordenador do cursinho, Carlos Eduardo Bindi. O professor enfatiza que as médias calculadas pelo site não são a nota de corte, mas indicam uma tendência. "Neste ano, a média de medicina está em 70,3 pontos. Em 2005, foi de 75,2 e, em 2004, 70,4", diz Bindi. A nota de corte do curso em 2004 foi de 78; no ano seguinte, subiu para 81. A hipótese formulada por Bindi é que a queda de pontos se deva à extensão do exame da Fuvest. "Neste ano, a prova teve mais texto, foi mais demorada, cansativa. Os candidatos ficaram mais esgotados", afirma.

Variáveis
Roberto Costa explica que são três variáveis que podem influenciar na nota de corte: uma deles é a própria Fuvest, que pode ser mais fácil ou difícil; a outra é o nível dos alunos que prestaram a prova; e a terceira é o Enem. Para ele, como o nível de dificuldade dos cem testes foi semelhante ao do vestibular do ano passado e como o padrão dos alunos se manteve, só a prova do MEC (Ministério da Educação) fica como "elemento surpresa".

Na última semana, o MEC informou que, em média, as notas da parte objetiva do Enem -que são consideradas no cálculo dos pontos da primeira fase da Fuvest- caíram com relação ao exame passado. No entanto, Costa avalia que, para os candidatos a vagas na USP, o fenômeno não deve ser o mesmo. "Neste ano, o Enem teve um número muito grande de candidatos, isso explicaria por que a nota caiu. Quanto mais candidatos, maior a tendência de baixar a média. Muitos dos que se inscreveram normalmente não fariam a prova e poderiam estar menos preparados", diz.

(*) Repórteres da Folha de S. Paulo. Matéria publicada no caderno Fovest de 29/11/2005.

ELITISMO MARCA A PROVA DA PRIMEIRA FASE DA FUVEST 2006

Professor do Cursinho da Poli critica formulação de questão e temas do exame de ingresso à maior universidade do País


Se depender da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), o acesso à maior universidade do País, a USP, será um sonho cada vez mais distante para os estudantes da rede pública de ensino. A avaliação
é do professor Joel Arnaldo Pontin, do Cursinho da Poli, que tece diversas críticas ao exame apresentado ontem (27/11) a mais de 150 mil estudantes. Ele toma como exemplo de sua tese a controversa redação da questão de número 76 da prova V, na qual o termo “pentóxido de fósforo” poderia – e deveria – ser grafado “pentóxido de difósforo”, já que a fórmula em questão era o P2O5. “O enunciado não está incorreto, pois a nomenclatura oficial só exige o prefixo – o “di”, de “dois” – se o elemento puder assumir outras valências, outras cargas, o que não é o caso”, explica. “Mas o redator da questão poderia, sem nenhum problema, ter optado pelo prefixo, o que certamente teria evitado que muitos vestibulandos incorressem em erro.”

Os maiores prejudicados por essa “firula” foram, em sua avaliação, estudantes da rede pública de ensino, pois esse conteúdo – supérfluo, diga-se – não lhes é apresentado, ao contrário do que ocorre nas melhores escolas privadas. “A Fuvest quer avaliar a capacidade do aluno de fazer cálculos, que seria o objetivo principal da questão 76 V, ou medir o seu grau de conhecimento sobre temas ultra-específicos?”, indaga Pontin. “A julgar pelo seu vestibular deste domingo e pelas provas realizadas nos últimos anos, parece que ela não sabe o que quer, não tem foco, e está se tornando, involuntariamente ou não, injusta, elitista.”

O elitismo, prossegue o professor do Cursinho da Poli, permeia toda a prova de Química deste ano. Assuntos atuais como o Protocolo de Kyoto, o efeito estufa, a camada de ozônio e chuvas ácidas – todos constantemente abordados pelos meios de comunicação – foram solenemente ignorados pelos autores da prova. Em contrapartida, marcaram presença polimerização, radioatividade, equilíbrio químico e sistemas heterogêneos. “Não seria exagero afirmar que só 0,5% dos jovens que prestaram a prova da Fuvest já tinham ouvido falar em radioatividade e não mais que 1% fazem idéia do que seja polimerização”, diz Pontin.

Caminho inverso vem sendo percorrido, já há algum tempo, por instituições como a Unicamp e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), cujos vestibulares alinham-se conceitualmente à prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O Enem tem como prioridade avaliar a capacidade de leitura, interpretação e análise dos estudantes, colocando num plano inferior o domínio de conteúdos. A fórmula vem surtindo efeito: neste ano, por exemplo, a diferença entre a nota média dos alunos da rede privada e da rede publica caiu de 41% para 17%. “Ao seguir o modelo do Enem, universidades como a Unicamp e a UERJ estão contribuindo para democratizar o acesso ao ensino superior, ao contrário do que tem feito, lamentavelmente, a Fuvest”, afirma Pontin.

* Texto produzido pelo jornalista Dario Palhares, Assessor de imprensa do Cursinho da Poli.

segunda-feira, novembro 28, 2005

PRÓXIMO ALVO: BASTILHA

Inspirados no hip-hop e em rappers,
jovens imigrantes da periferia agora
ameaçam tomar de assalto a capital
francesa e atacar seus bairros elegantes

Marina Caruso, de Paris (*)

Neste domingo 27, faz exatamente um mês que os jovens Banou, 15 anos, de Mali, e Ziad, 17, da Tunísia, morreram eletrocutados ao fugir de uma das truculentas blitze
da polícia francesa. O incidente aconteceu em Clichy-sous-Bois, subúrbio pobre ao norte de Paris e, sabe-se, foi o estopim para que milhares de jovens suburbanos – em sua maioria filhos de imigrantes árabes e africanos – tocassem fogo em carros, latas de lixo e escolas de toda a França. De lá para cá, muita (e, paradoxalmente, tão pouca) coisa mudou. Paris continua forte e dona da mesma beleza imponente de sempre. Mas engana-se quem pensa que esse berço da história e da democracia ocidentais esteja livre das ameaças do subúrbio.

Na quarta-feira 24, ISTOÉ conversou com um grupo de oito jovens, filhos de imigrantes, em Aubervilliers, nos arredores de Paris. Com idade entre 21 e 30 anos, Nader, Abdel, Lesar, Gepetto, Sofian, Abdulah, Housmane e Cristophe querem mais, muito mais confusão. Cabeças do chamado Bando do 112 – pois moram em um HLM (Habitat à Loyer Moderé ou habitação de aluguel moderado) de numero 112 –, eles prometem incendiar Paris da próxima vez. “Fomos burros. Ao queimarmos carros e escolas do subúrbio demos corda para o (Nicolas) Sarkozy (ministro do Interior da França) nos enforcar. Da próxima vez, acabamos com Paris, incendiando primeiro a praça da Bastilha”, vocifera Nader, 24 anos, descendente de argelinos e um dos sete desempregados do grupo. E a queimada tem data marcada? Sofian, 30, filho de imigrantes marroquinos, responde: “Se a direita ganhar, será logo depois das eleições de 2007. Mas se a esquerda vencer, será no primeiro grande vacilo”, ameaça.

Durante quase duas horas de conversa, o bando dos 112 mostrou seus desejos, costumes e manias. Todos, sem exceção, são fãs de rap e hip-hop, fumam (muito) haxixe e têm um ódio descomunal pela França, país que, para eles, destroçou os locais de origem de seus pais e ainda assim os trata como “filhos bastardos”. “A polícia diz que a gente se droga e por isso bota fogo nos carros. Mas é justamente o contrário: a gente só não mata todo mundo porque tem um baseado pra fumar”, diz Nader. “É isso mesmo”, endossa Abdel, 25 anos. “O Sarkozy acha que proibindo a venda de gasolina em garrafas vai nos impedir de fabricar coquetéis Molotov, mas ele não sabe que a gente tem revólveres calibre 38 e até Kalashnikovs e granadas”, diz, ameaçador.

Enquanto a tal revolução do banlieue (subúrbio) não acontece e essa espécie de 1968 dos excluídos não toma corpo, a verdadeira arma dessa moçada – para ira dos franceses mais conservadores – é um rap pra lá de ofensivo. Fãs da dupla NTM (Nique ta Mère, que em português quer dizer, literalmente, “foda a sua mãe”) e do rapper Mr. (Monsieur) R, os jovens do banlieue consideram esse estilo musical um “grito de guerra dos excluídos”. “Eles cantam a nossa dor. A melhor música é a que diz ‘Eu vou foder a França até ela gostar de mim’”, dizem, orgulhosos.

Tentando ouvir pessoalmente o rapper Mr. R (Richard Maleka), a reportagem de ISTOÉ acompanhou o repórter Mustapha Kessous, do Le Monde, ao tribunal do Palácio de Justiça de Melun. Processado por “atentado contra a moral e ode à violência” por dois deputados da Assembléia Nacional, o rapper deveria comparecer para se defender das acusações. O autor da música FranSSe (além de comparar o país às SS nazistas, diz que “a França é uma putana” e que despreza símbolos nacionais como Napoleão e o general De Gaulle), no entanto nem sequer compareceu para se defender.

Ainda assim, a visita da reportagem ao local serviu para radiografar o tamanho do preconceito contra os imigrantes árabes. Logo na entrada da sala do julgamento, um policial pediu ao jornalista Mustapha Kessous que ele entregasse sua carta de acusação e fosse ao banco dos réus. Mustapha educadamente explicou que ele era jornalista do maior jornal da França e o policial, constrangido, pediu desculpas. “Já perdi a conta de quantas vezes me pediram a carteira profissional para comprovar que eu não estava mentindo”, diz.

Mas Mutapha não os culpa, ao contrário, entende bem a situação. “Um árabe nunca se forma numa faculdade e se torna jornalista de um importante jornal francês. Isso só aconteceu comigo porque eu estudei em boas escolas, de bairros ricos, e porque o Le Monde sabia que precisava de um jornalista com feições árabes para extrair boas matérias sobre os banlieues”, conta o jovem de 26 anos que foi incorporado à equipe do jornal às pressas, há menos de um mês, quando as confusões começaram. Ces’t la vie....

(*)Repórter da revista IstoÉ. Matéria publicada na edição nº 1885 de 30/11/2005.

domingo, novembro 27, 2005

A TV QUE PODE SER LIDA

TV Cultura acerta o tom no programa ‘Entrelinhas’, que visita o universo dos livros, sob o comando de Paula Picarelli

Na adolescência, Paula Picarelli não era muito chegada aos livros. Dizia que não tinha paciência para eles e que achava perda de tempo ficar em um lugar parada, isolada, lendo. Certo dia, leu numa entrevista a seguinte dica: um bom livro para quem está começando a gostar de ler é O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway. Correu até uma livraria, comprou um exemplar e conseguiu lê-lo até o fim. Mas o interesse pelas letras, digamos assim, se deu mesmo aos 19 anos, quando entrou na faculdade. Encantou-se com os pensadores do teatro. E devorou O Teatro e a Peste, de Antonin Artaud, e textos do dramaturgo italiano Eugênio Barba.

A moça que ganhou fama nacional como uma das lésbicas da novela Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos, hoje comanda – e não é força de expressão – o programa literário Entrelinhas. Está lá, na TV Cultura, sempre aos domingos, às 21h30, com reprise às segundas, às 22 horas. Põe em foco não só os clássicos da literatura e os lançamentos mais anunciados, mas também ousa. Abre brechas para novatos que não raramente se perdem na obscuridade do mercadão de livros.

Para entender melhor o perfil do semanal, ela explica, convidativa que é: “Eu sempre falo que o Entrelinhas é um programa sobre literatura, aliás, o primeiro da TV aberta brasileira. Mas falar que a equipe saiu do Metrópolis já dá a entender a linha do programa. É literatura leve, com linguagem atual, sem preconceito e sem simplificações.”

Embora o tema seja fascinante, literatura não é dos assuntos mais fáceis de se tratar, principalmente no que diz respeito a novos escritores. Apresentar o Entrelinhas é um processo contínuo, conta. É assistir a cada programa, observar o que foi bom ou não, até encontrar o melhor tom. E, como ela aqui não faz exatamente uma personagem, o ideal é relaxar de todo para ser o mais natural possível. “Sempre faço uma pesquisa rápida sobre os temas que vou apresentar”, conta Paula. “Quem faz as entrevistas com os escritores é o Ivan (Marques, redator-chefe) que é também quem faz a pauta. Ele acabou de defender uma tese de doutorado em literatura, é superfera.” E dá-lhe reunião de equipe. É preciso saber como o programa vem sendo recebido e, elementar, o que as pessoas estão lendo fora da tela.

O desafio, com toda a licença ao clichê que o termo representa, é não deixar o programa pesado, mas também não torná-lo superficial. E como conseguir esse equilíbrio? É uma equação que o próprio público cobra do programa. “Numa pesquisa recente descobriu-se que o Entrelinhas é um dos únicos programas que trouxeram um público jovem que não assistia à TV Cultura. É o balanço entre leveza e profundidade que agrega valor ao programa.”

Da série de cenas divertidas, Paula cita uma com o escritor Reinaldo Moraes. E, claro, quando se conhece esse outro lado da literatura, o interesse logo vem à tona. “A maioria das entrevistas é feita na casa das pessoas. O programa fica gostoso, com um clima de cozinha lá de casa.”

Química
O Entrelinhas é uma conjunção de elementos que deu certo: roteiro, pauta, produção, apresentação e, claro, a seleção de entrevistados. Diz Paula que a receita vingou, no caso específico de sua performance, porque desde o início o segredo sempre foi colocar-se no papel de aprendiz. “Estar com essa equipe significa estar em um lugar de aprendizado, de saber, de respeito, trabalhar perto de ótimas pessoas”, completa.Dito assim até parece bajulação, mas a moça fala com efeito. Sabe convencer a platéia.

*Matéria publicada no Caderno TV&LAZER, do jornal O Estado de S. Paulo, de 27/11/2005.

O SISTEMA DE COTAS

LIÇÕES DE UM RACISMO NEM SEMPRE CORDIAL E HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO

Marcos Rolim (*)

Entre os estudos etnográficos do livro “Cabeça de Porco”, de Luiz Eduardo Soares, MV Bill e Celso Athaydes, há vários relatos de experiências pessoais que refletem a dimensão do racismo brasileiro no cotidiano dos negros. Tais relatos são impactantes pelo que revelam da insensibilidade moderna e pela dimensão de um sofrimento suportado, no mais, como uma “condição das coisas”. Mas eles produzem um efeito muito especial entre as pessoas brancas, porque nos colocam diante de circunstâncias que se tornaram invisíveis em nosso mundo.

Celso Athaydes, por exemplo, relata um episódio ocorrido em sua infância, no Rio de Janeiro. Ele e um amiguinho branco se deslocavam de ônibus pela cidade, sentados lado a lado. Dois moleques negros, então, entraram no coletivo. Passaram por baixo da roleta e, fazendo zoada, se aproximaram de uma senhora branca, que estava em pé, com uma bolsa à tiracolo. Os passageiros imaginaram que os rapazes iriam cometer um roubo e, por alguns segundos, o ônibus inteiro prendeu a respiração. A senhora, imaginem, ficou lívida. Mas eis que o ônibus parou e os moleques desceram normalmente. Foi nesse momento que a senhora branca virou-se para o garoto Celso e disse: “- Você viu o que os seus amigos quase fizeram? Eles iriam me assaltar! E você estava com eles!” O menino negro tentou falar algo, mas não conseguiu. Apenas o choro foi possível, um choro doído que brotava do fundo de uma história cruel iniciada na África há muito tempo. Seu amiguinho branco é que conseguiu balbuciar que eles estavam juntos e que nem conheciam os jovens que tanto assustaram a referida senhora. A dona, então, meio sem jeito, pediu desculpas e desceu do ônibus. Detalhe: pediu desculpas ao garoto branco!

Coisas do tipo acontecem todo o tempo com os negros em nosso País. Não as percebemos, via de regra, porque estamos cercados por imagens e notícias que foram, em larga medida, já filtradas etnicamente antes que chegassem até nós. A sociabilidade moderna experimentada notadamente pelas camadas médias e pelas elites econômicas e culturais é branca de fio a pavio. Olhamos para nossos jornais e vemos que não há negros na crônica social. A idéia que nossas elites fazem de “sociedade” é aquela que emergiu nos espaços que elas freqüentam, eles próprios o resultado de uma exclusão histórica sem paralelos no mundo ocidental. O seqüestro institucional da imagem negra, aliás, é cometido na TV, nos palcos, nas telas, nos livros de história e em tudo o mais. Espaços que expressam, também por isso, a relação denunciada por Walter Benjamim ao afirmar que todo o documento de cultura é, ao mesmo tempo, um documento de barbárie.

Hamilton Naki, o cirurgião clandestino da África do Sul, falecido no último dia 28 de maio, aos 78 anos de idade, simboliza como ninguém este fenômeno da invisibilidade. Quando no dia 3 de dezembro de 1967, o corpo de uma jovem branca, de nome Denise Darvall, deu entrada no Hospital com morte cerebral, o jovem médico branco Christiaan Barnard exigiu a presença de Naki no time de cirurgiões que haveria de realizar um dos maiores feitos da história da medicina. Havia um problema, entretanto: pelas leis do apartheid, um negro jamais poderia entrar em uma sala onde estavam cirurgiões brancos, nem cortar a carne de um branco ou tocar no sangue de um branco. Mas para o Dr. Naki, o Groote Schuur Hospital abriu uma secreta exceção. O mundo, entretanto, não soube que entre os pioneiros do transplante de coração havia um cirurgião negro de talento extraordinário que jamais havia tido a chance de freqüentar uma escola de medicina. Quando as fotos do primeiro transplante foram divulgadas pelo mundo, a presença de Naki, com um avental branco, foi oficialmente apresentada como a de um jardineiro.

Lembro estas histórias para que seja possível dimensionar melhor o significado da introdução de políticas de “ação afirmativa” no Brasil, que possam, por exemplo, nos moldes do que está sendo proposto pela Reforma Universitária, estimular a entrada de negros nas universidades. Não estamos na África do Sul, é verdade. Nossa estrutura jurídica consagrou, desde muito, a igualdade formal e a repulsa ao racismo. Essas diferenças tão importantes, entretanto, não são o mesmo que a igualdade real e estão longe de significar o fim do preconceito e do próprio racismo. Pelo contrário, é preciso reconhecer que o racismo está inteiro entre nós, que não há nada de “cordial” em suas manifestações; e que o fato dele se apresentar no Brasil sem verbo, só como gesto ou como pressuposto, sempre silencioso no que oferece de implacável, pode implicar em conseqüências ainda mais danosas para suas vítimas. Isso será mesmo evidente quando elas próprias forem capturadas pelo discurso neutralizador que, se não apregoa mais a existência mística de uma “democracia racial”, dissemina a idéia de que todo o ato de afirmação da identidade étnica é uma ameaça ou um “racismo às avessas”. Assim, então, o simples fato de se identificar para efeito de políticas públicas quem são os negros, os pardos, os indígenas ou os brancos já seria um problema. O que deve contar, afirmam, é a condição cidadã e os direitos que todos possuem. Se não for assim, asseguram, estaremos mergulhando o país nos riscos do tensionamento racial e da própria discriminação; dando um passo atrás, em síntese.

Mas o exame atento da realidade brasileira não ampara este tipo de preocupação. O registro étnico é muito importante em todas as áreas para que seja possível identificar, com precisão, o tamanho e a natureza do apartheid que sobrevive e se perpetua para além das garantias formais. De que adianta saber que nosso Código Penal vincula todas as pessoas se, por razões que operam para muito além do direito, as sanções e todo o aparato persecutório se movem mais amplamente sobre os negros que sobre os brancos? De que adianta saber que as leis de trânsito se referem aos motoristas sem qualquer distinção se, para além do que está positivado nela, os motoristas negros são sempre suspeitos? De que adiante saber que qualquer pessoa pode chegar à faculdade de medicina se nas fotos de formatura só há espaços para negros se convidarem o jardineiro?

Pois bem, mas aí os argumento passam a ser os seguintes: a) é muito difícil encontrar um parâmetro seguro para que os negros sejam identificados enquanto tal. Há uma extraordinária miscigenação no Brasil o que torna impossível a separação nítida das etnias com base na aparência e b) a introdução das cotas irá permitir que pessoas com menor qualificação cheguem à universidade, logo haverá uma tendência de perda de qualidade nos cursos. A auto-definição étnica é o caminho para enfrentar a primeira dificuldade. Casos especiais onde alguém coloque em dúvida a veracidade desta auto-definição podem ser examinados por um grupo especialmente designado, nos termos da experiência da UNB, por exemplo. Quanto à qualificação dos cursos, os critérios definidos para as ações afirmativas podem oferecer algum tipo de vantagem comparativa aos negros dentro de uma disputa de mérito. Algo como, por exemplo, uma vantagem na pontuação média. Assim, não se estará criando uma política que contrarie os critérios de seleção por mérito, mas bonificando aqueles que, por motivos históricos de discriminação, não tiveram a chance de partir do mesmo ponto para a disputa. Sendo este o caminho, estaremos falando de justiça, sobretudo. As diferenças de mérito entre os bonificados e os demais serão desprezíveis para efeitos de maior ou menor qualificação dos cursos, mas poderão ser muito significativas para estimular o ingresso de negros nas universidades.

Nada, de qualquer forma, que justifique o espanto. Nas nossas universidades já tivemos, no passado, outra “política de cotas”. Nos cursos das ciências rurais, houve, por muito tempo, a “lei do boi”, dispositivo pelo qual filhos de produtores rurais – em geral latifundiários – eram admitidos nos cursos sem os critérios de mérito exigidos dos demais. Não me recordo deste tipo de cota ter trazido algum protesto considerável, à época. Os mesmos que criticam as políticas afirmativas, em regra, também nunca acharam particularmente odiosa a previsão legal de prisão especial para titulares de diploma de curso superior.

Seja como for, penso que devemos saudar a disposição do governo brasileiro de ter sinalizado na proposta de Reforma Universitária uma política de ação afirmativa. Ruim mesmo seria não termos sequer a chance deste debate.

(*) Jornalista, Consultor em Segurança Pública e Direitos Humanos, ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados

A inacreditável história de um médico sem diploma

The Economist(*)

Hamilton Naki, um sul-africano negro de 78 anos, morreu no final de maio. A notícia não rendeu manchetes, mas a história dele é uma das mais extraordinárias do século 20. "The Economist" contou-a em seu obituário desta semana. Naki era um grande cirurgião. Foi ele quem retirou do corpo da doadora o coração transplantado para o peito de Louis Washkanky em dezembro de 1967, na cidade do Cabo, na África do Sul, na primeira operação de transplante cardíaco humano bem-sucedida.
É um trabalho delicadíssimo. O coração doado tem de ser retirado e preservado com o máximo cuidado. Naki era talvez o segundo homem mais importante na equipe que fez o primeiro transplante cardíaco da história. Mas não podia aparecer porque era negro no país do apartheid.

O cirurgião-chefe do grupo, o branco Christiaan Barnard, tornou-se uma celebridade instantânea. Mas Hamilton Naki não podia nem sair nas fotografias da equipe.
Quando apareceu numa, por descuido, o hospital informou que era um faxineiro. Naki usava jaleco e máscara, mas jamais estudara medicina ou cirurgia.
Tinha largado a escola aos 14 anos. Era jardineiro na Escola de Medicina da Cidade do Cabo. Mas aprendia depressa e era curioso. Tornou-se o faz-tudo na clínica cirúrgica da escola, onde os médicos brancos treinavam as técnicas de transplante em cães e porcos. Começou limpando os chiqueiros. Aprendeu cirurgia assistindo experiências com animais. Tornou-se um cirurgião excepcional, a tal ponto que Barnard requisitou-o para sua equipe.
Era uma quebra das leis sul-africanas. Naki, negro, não podia operar pacientes nem tocar no sangue de brancos. Mas o hospital abriu uma exceção para ele.
Virou um cirurgião, mas clandestino. Era o melhor, dava aulas aos estudantes brancos, mas ganhava salário de técnico de laboratório, o máximo que o hospital podia pagar a um negro. Vivia num barraco sem luz elétrica nem água corrente, num gueto da periferia.
Hamilton Naki, um sul-africano negro de 78 anos, morreu no final de maio. A notícia não rendeu manchetes, mas a história dele é uma das mais extraordinárias do século XX. Depois que o apartheid acabou, ganhou uma condecoração e um diploma de médico honoris causa. Nunca reclamou das injustiças que sofreu a vida toda.

(*) Revista britânica especializada em economia e política.

ENSAIO

A FARSA DE UM PONTO DE EXCLAMAÇÃO
O grevismo na universidade recorre a pose
de herói para esconder o papel de vilão


Roberto Pompeu de Toledo (*)

A greve continua! Assim terminava o comunicado expedido na segunda-feira passada pelo comando de greve do Andes – o Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior –, dando conta das últimas notícias do movimento deflagrado já lá iam mais de oitenta dias nas universidades federais. O ponto de exclamação ao fim da frase dizia mais de suas intenções do que as palavras. Caso estivesse escrito "A greve continua", sem ponto de exclamação, se trataria de uma informação, não mais que isso, aos associados. O ponto de exclamação mudava tudo. Conferia à frase épicos tons de heroísmo, de ardor pela causa, de brado retumbante. Não, a questão não era apenas que a greve continuava. Era que a greve continua!

O ponto de exclamação, até pela forma, representava uma espada desembainhada contra o inimigo. En garde! Era um convite à arremetida contra o tirano, o opressor, o infiel. Ele vai ver só! Quem vai ver? Quando há greve numa fábrica, quem "vai ver só" é o patrão, que sentirá seus efeitos no bolso. Numa greve em universidade, com perdão para repisar no óbvio, são os alunos. É contra eles, ao fim e ao cabo, que se produzem seus resultados. O ponto de exclamação do Andes era uma espada espetada contra a barriga da estudantada.

O Andes, em temporada de euforia cívica, informou que patrocinou dezesseis greves nas universidades federais desde 1980, perfazendo 978 dias de paralisação. Santo Deus, que proeza! – e lá vai outro ponto de exclamação, que é isso que o Andes julga merecer com tal performance. O jornal O Globo fez algumas singelas continhas e chegou a conclusões não tão lisonjeiras para o sindicato dos docentes. Os 978 dias equivalem a dois anos e oito meses. Descontados os fins de semana, e levando em conta que o ano letivo tem 200 dias úteis, chega-se a três anos e meio sem aulas. Mais seis meses e se completariam os quatro anos equivalentes a bom número de cursos de graduação. Claro, há as famosas reposições. Mas, até acontecerem, já quebraram o ritmo que, como em qualquer atividade, é fundamental para os bons resultados. E, quando acontecem, é em meio aos atropelos do Natal ou do Ano-Novo, às preguiças do verão ou do Carnaval, quando as cabeças não estão na melhor forma para os rigores do estudo.

O deputado Paulo Delgado (PT-MG), alertado pela reportagem do Globo, iniciou, como presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara, um movimento para regulamentar o direito de greve nas universidades públicas. A providência, tal qual a famosa reforma política, inclui-se entre as que caem de podres, de tão necessárias para desentravar o país, mas que, por contrariar interesses corporativos, são sempre jogadas para as calendas gregas. "Há um abuso do direito de greve", diz Delgado. A presidente do Andes, Marina Barbosa, reage: "O direito de greve está previsto na Constituição. Qualquer regulamentação restringirá esse direito". Eis um modo enviesado de ler a Constituição. Ali está escrito (artigo 37, VII) que o direito de greve dos funcionários públicos "será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica". Opor obstáculos à materialização da lei específica é desrespeitar o texto constitucional.

Para citar um exemplo, só um, de como o espeto do Andes encosta na barriga dos estudantes, atente-se para uma decisão tomada pelo comando de greve da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba. Comunicaram os grevistas na quarta-feira passada que não corrigirão as provas da primeira etapa do vestibular de 2006. Com isso, e enquanto durar a greve, não poderá ser realizada a segunda etapa. Sabe-se o que significa para um jovem o ano do vestibular – muito trabalho, tensões, angústias. Os grevistas de Campina Grande resolveram adicionar a esse amargo coquetel a incerteza em torno de quando – e se – as provas serão realizadas.
"É preciso atualizar a agenda da indignação", afirma o deputado Paulo Delgado. "A greve continua!" é irmã gêmea de "A luta continua!". Que por sua vez é prima de "O povo unido jamais será vencido!" e cunhada de "Abaixo a ditadura!". Pertencem todas a uma família de slogans apropriados ao combate contra os regimes castradores de direitos e opressores do povo. Tiveram seu papel durante o regime militar. Na democracia, merecem ser usados com cuidado. Quando menos, o cuidado de verificar se o direito de um – o de greve, da parte do docente – não fere o do outro – o de ter aulas, da parte do estudante.

A greve nas universidades federais, desgastada como costuma acontecer com esses movimentos que se esticam sem rumo e sem nexo, ameaçava morrer de morte natural no fim da semana passada. Ao completar 88 dias, na sexta-feira, tinha chance de escapar (por pouco) do terrível anátema lançado pelo senador Cristovam Buarque, o primeiro dos três ministros da Educação do governo Lula. "Uma greve que ultrapassa os 100 dias mostra que a universidade não é mais necessária, da forma como está estruturada", disse ele ao Globo. "Imagine um banco parado por 100 dias."

(*) Ensaio escrito para a edição 1933, da Revista Veja, de 30/11/2005.

sexta-feira, novembro 25, 2005

PONTO DE VISTA

ALGUMAS LIÇÕES DO RACISMO BRASILEIRO QUE APRENDI COMO PUBLICITÁRIO



“Everybody wants an intelligent son. My intelligence only got me into difficulties” - Su Tung P’O

Silvino Ferreira Jr. (*)

Foi logo no início da minha vida de publicitário em São Paulo que a declaração de um diretor de arte de um dos escritórios da Leo Burnett (EUA) me chamou a atenção porque batia com um sentimento que também era meu. Ao ser questionado sobre o que mais o incomodava no fato de ser negro, ele devolveu a seguinte resposta: “O tempo que sou obrigado a perder me preocupando com isso”.

Se fosse um aviso do que estava por vir, não poderia ter sido mais claro, pois aqui estou eu, um redator publicitário, neste doce novembro, mês da consciência negra, escrevendo exatamente sobre o negro na propaganda brasileira. Ou, em outras palavras, escrevendo sobre algo que praticamente não existe. Nenhuma outra atividade ou ocupação que eu tenha tido me obrigou a gastar tanto do meu tempo pensando nos mecanismos desse fenômeno, que faz com que as agências de propaganda brasileiras sejam tão brancas.

É claro que não foi como publicitário que descobri que 350 anos de regime escravocrata fizeram um estrago danado e deixaram marcas que se incorporaram ao nosso cotidiano. O que me surpreende é que a publicidade tenha me ensinado mais sobre a natureza dissimulada dessa herança ibérica do que os livros de Gilberto Freyre, que tive que ler (com prazer) nos meus tempos de estudante de sociologia, em Recife. Talvez eu deva até ser grato por tantas lições de vida que a minha profissão me proporcionou.

Por outro lado, seria muito egoísmo não aproveitar esta oportunidade de compartilhar com você, publicitário ou não, negro ou não, algumas dessas lições. Quem sabe assim eu não me vingo e obrigo você também a ocupar mais do seu tempo com um assunto que deveria existir tanto quanto existem negros em nossas agências.

A primeira lição: a dissimulação, principal arma do racista de fabricação nacional, também pode servir para a defesa da sua vítima. Quando o assunto for discriminação racial, entre mudo e saia calado. Na verdade, você nem estava presente. Outra dica: adote frases do tipo “talento não tem cor” ou “a falta de negros na propaganda é apenas um reflexo do racismo da sociedade”, para justificar o fato absurdo de um país que produziu escritores como Machado de Assis, Lima Barreto, Cruz e Sousa e Paulo Lins não ter redatores publicitários negros, por exemplo. Deve ser porque ser escritor é bem mais difícil do que ser redator. Nem deixe passar pela sua cabeça o impulso de revelar que você conhece muito publicitário branco que não é tão talentoso assim, e que o pré-requisito parece ser adotado com mais rigor na hora de contratar o negro. Este sim, tem que ser muito bom para furar o bloqueio. Também não vá ser ingênuo a ponto de tentar argumentar que se por um lado a publicidade não é responsável pela existência do racismo, por outro ela é uma poderosa arma para a manutenção ou remoção do mesmo. Isso realmente pega mal. Coisa desse pessoal que não tem o que fazer e fica criando ONGs. Se possível, torne-se invisível como tão bem sabe fazer o bom e covarde racista tupiniquim. Se você for daquele tipo de negro que pode se passar por branco, não vacile: seja branco de corpo e alma. Isso aumenta exponencialmente as suas chances de se dar bem.

Se alguém adotar uma postura radical e disser que racismo simplesmente não existe, concorde. Não o trate como cego, se ele se enquadra nesta categoria; nem cínico, se for este o caso. Muito menos revele que não existe outra classificação possível ou que é bastante improvável que um padrão de comportamento social se repita com tanta precisão e freqüência sem uma ideologia, doutrina ou coisa que o valha, que o sustente.

E quando o álibi – todo racista brasileiro tem um álibi, pode reparar - for o repertório? Olha lá como você vai expressar a sua convicção sincera de que pôr um negro aqui outro ali nas peças produzidas pela agência é pouco, muito pouco, na verdade, migalhas. Pelo amor de Deus, e da sua carreira, não vá sugerir que contratar profissionais negros deveria ser regra tanto quanto contratar brancos. E se alguém contra-argumentar dizendo que há falta desses profissionais no mercado, engula a sua certeza de que não precisa ser tão criativo assim para encontrar maneiras de se investir na formação de tais profissionais. Sugerir que a publicidade é suficientemente rica para proporcionar este retorno à sociedade, nem pensar.

Para os raríssimos negros do mercado, um conselho básico: digira as piadinhas e as insinuações racistas. Não vá cair na besteira de responder que você, além de fazer na entrada e na saída, também faz na cabeça. Silenciar é tudo. Não vá dar uma de Silvino. Outro risco que você também corre se falar o que pensa é o de ser taxado de chato ou racista ao contrário, como se fosse comum ver negros barrando a ascensão profissional de brancos; negros impedindo a entrada de brancos em rodas de samba; ou branco reclamando porque sofreu preconceito racial por parte de um funcionário negro do Iguatemi. Se você insistir no assunto, aí é promovido à categoria de negro recalcado, pode escrever.

Racista brasileiro se borra de medo só em pensar que pode ser desmascarado, portanto, se algum deles se descuidar e deixar cair a máscara diante de você, lembre-se da primeira lição: dissimule, finja que não viu nada. Jamais se ache suficientemente inteligente para desafiá-lo. Principalmente se a sua descoberta for feita a portas fechadas. Ninguém vai acreditar. Vão dizer que só pode ser um terrível engano, que aquela pessoa tão bacana não pode ser racista, que você tem mania de perseguição, que está procurando desculpa para a sua demissão, e por aí vai. Caso você viole esta regra estará perdido: vão exigir provas, te ameaçar de processo, te isolar. Prepare-se para perder algumas pessoas que você considerava amigas, pois elas vão desaparecer pelo mesmo buraco por onde os ratos abandonam o navio. Este processo purgatório, aliás, é o lado bom da coisa.

Finalmente, uma lição tão simples e tão óbvia que se o inteligente aqui tivesse o mínimo de massa cefálica, teria simplesmente consultado um dicionário, e não aprendido dentro de uma agência de propaganda: preconceito, meu amigo, é prejuízo.

(*) Silvino Ferreira Jr. - Redator Publicitário. (silvino.silvas@gmail.com)

sexta-feira, novembro 18, 2005

TRABALHO

MULHER NEGRA TEM PIOR RENDA, DIZEM ESTUDOS

Rendimento é quase metade do das trabalhadoras brancas; empregadas domésticas formam grupo mais vulnerável


Cláudia Dianni(*)

As mulheres negras sofrem tripla discriminação no mercado de trabalho: racial, de classe e de gênero. As empregadas domésticas são o grupo mais vulnerável. Assim como as outras trabalhadoras negras, elas ganham menos e a maioria não tem proteção social. Na semana em que o país comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, no domingo, foram divulgadas três pesquisas que dão números a um fato já bem conhecido dos brasileiros, o de que as mulheres negras são a base da pirâmide social do país. A renda média mensal das mulheres negras no Brasil, segundo levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com base em dados de 2003, é de R$ 279,70, contra R$ 428,30 para os homens negros, R$ 554,60 para mulheres brancas e R$ 931,10 para homens brancos.

Maior Estado negro do país, 80% da população, a Bahia é também o que mais discrimina a trabalhadora negra. Lá chegam a ganhar só 40% do salário de um homem branco que ocupa a mesma função, conforme dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicas) divulgados ontem.
A discriminação é ainda maior com relação às empregadas domésticas negras. Segundo o primeiro levantamento "Trabalho Doméstico e Igualdade de Gênero e Raça" da OIT (Organização Internacional do Trabalho), o número de mulheres negras que trabalham como domésticas é pelo menos o dobro do número de domésticas não-negras. O levantamento foi feito em São Paulo, Belo Horizonte, Distrito Federal, Porto Alegre, Recife e Salvador, onde a diferença é de quase quatro vezes.

No geral, há mais domésticas não-negras com carteira assinada do que negras nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pela OIT. Curiosamente, o Distrito Federal, que tem o maior índice de formalização do emprego do país, por causa da concentração de funcionário públicos, e a maior renda média do Brasil, é um dos lugares onde há o menor número de domésticas com carteira assinada, com 35% das domésticas não-negras registradas e 34,2% das domésticas negras. A capital perde apenas para Salvador, onde 30,8% das domésticas negras possuem carteira assinada. Oficialmente há 6 milhões de empregadas domésticas no Brasil, negras ou não-negras, mas o Ministério do Trabalho estima que haja mais 2 milhões que não entraram no último levantamento, em 2003. Do total, apenas 25% possuem carteira assinada. No caso das negras, são 23%.

Mas não são apenas as trabalhadoras informais que estão sem cobertura social. Menos da metade dos patrões que registram suas funcionárias paga Previdência Social para suas empregadas, segundo o Dieese. "Os patrões deixam de recolher a contribuição no início e acabam adiando a regularização por causa do passivo trabalhista que acumulam", disse Almerico Lima, diretor do Departamento de Qualificação do Ministério do Trabalho. A contribuição ao INSS é de 20% da remuneração. A norma é que o empregador contribua com pelo menos 12%. A jornada de trabalho das domésticas com carteira assinada é maior. Elas trabalham em média 47 horas semanais, as não-registradas, 44 horas e as diaristas, 22 horas. Segundo a OIT, um grande número de mulheres com mais de 50 anos, sobretudo entre as domésticas negras, continua trabalhando depois dos 50 anos.

(*) Repórter do jornal O Estado de S. Paulo. Rportagem escrita para a edição de 18/11/2005.

O ATOR NEGRO NA CENA BRASILEIRA

por Nei Lopes (*)

Desde os tempos coloniais, no Brasil, atores e atrizes negros têm mostrado sua arte em palcos e arenas os mais diversos. E essa história se conta - depois de uma préhistória recheada de performances de rua, desempenhadas por artistas solitários ou por elencos de autos populares como os comcubis, congadas, etc. - a partir dos mulatos Xisto Bahia (1824 - 1892), ator, cantor e compositor, e Francisco Vasques (1839 - 1892), considerado o maior ator cômico de seu tempo.

Destes, chegamos aos atores da Companhia Bataclan Negran, da Companhia Negra de Revista (Rio, 1926), e da Companhia Mulata Brasileira (São Paulo, 1930). Mas antes assistimos ao apogeu de Eduardo das Neves (1874 - 1919), ator circense que, já em 1909, tornava-se um dos pioneiros do cinema brasileiro interpretando o monologo Sangue Espanhol; e de Benjamin de Oliveira (1872 - 1954), filho de escravos que se tornaria o Rei dos palhaços Brasileiros e ator pioneiro na introdução de dramas teatrais em espetáculos circenses, a tal ponto que chegou a encenar o Othelo, de Shakespeare.

Entretanto, apesar dessas antigas e singulares contribuições dos intérpretes negros à arte de representar no Brasil, a dramaturgia nacional pouco se interessou pela criação de personagens negros mais densos, fixando-se apenas nos estereótipos, como os do criado fiel, da criadinha espevitada, do moleque de recados, etc., sempre representado por atores brancos pintados de preto. É para reverter esse quadro que surge o Teatro Experimental do Negro.

Fundado em 1944 e ativo até 1964, o TEN vai mostrar, inclusive no palco brasileiro de maior prestígio, o do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, atores negros representando autores negros e, principalmente, denunciando a ótica alienada através da qual a alma nacional focava os afro-descedentes, sempre vistos à luz do pitoresco ou do puramente histórico, como elementos estáticos, peças de museu. "Mas fora do TEN, e apesar dos talentosos atores que a iniciativa revelou, o problema continuava. No final dos anos de 1950, por exemplo, o Pedro Mico de Antônio Callado e o Gimba de Gianfrancesco Guarnieri, personagens marcadamente negros em sua construção, foram interpretados por atores brancos.

Em 1968, depois de Ruth de Souza ter brilhado no filme Sinhá Moça (1953) e de Grande Otelo ter mostrado o seu talento e versatilidade, o Cinema Novo revelava Antônio Pitanga, Luiza Maranhão e outros. Mas só a partir de 1976, com Milton Gonçalves, na telenovela Pecado Capital da Rede Globo, a principal rede brasileira de televisão, num momento em que esse veículo já capitalizara todo o antigo potencial do teatro e do cinema, é que era oferecido ao consumo do grande público brasileiro o espetáculo de um ator negro de grande densidade dramática representando um personagem a altura do seu talento.

De lá para cá, uma nova geração de atores negros, entre os quais Camila Pitanga, Isabel Fillardis, Lui Mendes, Norton Nascimento, Taís Araújo e outros, vem se formando, não no cinema e no teatro, como antes, e, sim, na televisão. São artistas que certamente vêm para, daqui a pouco, enriquecerem a galeria dos
grandes atores brasileiros.

OS ARTISTAS DA NOSSA GALERIA:

ABDIAS NASCIMENTO
Ator e dramaturgo nascido em Franca, SP. Em 1994 fundou, no Rio, o Teatro Experimental do Negro. Autor de Sortilégio - Mistério Negro, drama encenado em 1957 no Teatro Municipal do RJ e no Teatro Municipal de SP, participou, como ator, das montagens de Todos os Filhos de Deus Têm Asas, de Eugene O'Neil (1946); O Filho Pródigo, de Lúcio Cardoso (1947); Aruanda (1948); Calígula, de Albert Camus (1949); Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes (Teatro Municipal do RJ, 1956); Perdoa-me por me Traíres (Teatro Municipal e Teatro Carlos Gomes, RJ, 1957); Sortilégio (Teatro Municipal, 1957), etc., além de protagonizar o Othelo de Shakespeare (1946), com Cacilda Becker e sob direção de Willy Keller.
No TEN dirigiu, entre outras montagens, as de O Imperador Jones, de Eugene O'Neil (1945, 46 e 53); Aruanda (1948) e Filhos de Santo (1949). Militante histórico da causa afro-brasileira, com projeção internacional, em 1983 elegeu-se deputado federal; em 1991 foi o primeiro titular da Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras do RJ. e em 1997 assumiu cadeira no
Senado, como suplente do falecido Sen. Darcy Ribeiro.

ANTONIO PITANGA
Nome artístico de Antônio Luiz Sampaio, ator n. na Bahia. Um dos atores preferidos de Glauber Rocha e um dos artistas mais requisitados no Cinema Novo, integrou, entre muitos outros, os elencos de Bahia de Todos os Santos (1960), A Grande Feira (1961), Barravento (1962), Ganga Zumba(1964), Câncer (1964), Jardim de Guerra (1968), Compasso de Espera (1973), Crueldade Mortal (1976), Cordão de Ouro (1976), Ladrões de Cinema (1977), A Deusa Negra(1979), Na Boca do Mundo (1979), Rio Babilônia (1982), Quilombo(1984), etc. Paralelamente à carreira de ator de cinema e televisão, é vereador no Município do Rio de Janeiro.

GRANDE OTELO
Nome artístico de Sebastião Bernardes de Souza Prata, ator brasileiro de teatro, cinema e televisão, n. em Uberlândia, MG, e f. em Paris. Depois de atuar em cassinos e outros tipos de casas noturnas, a partir de 1935 fez do cinema sua principal atividade, tendo aparecido nas telas pela primeira vez em Noites Cariocas. Em 1943 protagonizou o primeiro filme produzido pelos estúdios Atlântida, Moleque Tião. Seu grande sucesso, entretanto, ocorreu quando fez dupla com Oscarito em mais de 10 chanchadas, como Carnaval de Fogo, Matar ou Morrer, etc. Teve também participações memoráveis em filmes como Rio, Zona Norte, Macunaíma, etc., além de marcante atuação na TV e no teatro. O primeiro artista negro laureado no Congresso Nacional por seu trabalho, morreu de enfarte na França, onde seria homenageado no Festival dos Três Continentes, em Nantes.

MILTON GONÇALVES
Ator n. em Monte Santo, MG. Conhecido a partir do final dos anos 50. No Teatro de Arena de São Paulo participou de importantes montagens como as de Arena Conta Zumbi e A Mandrágora. Ator de múltiplos recursos, e certamente um dos maiores do Brasil em sua arte, em cinema, foi varias vezes premiado, principalmente por sua interpretação em A Rainha Diaba, de 1974. Na televisão vem atuando com sucesso na Rede Globo, nas funções de ator e diretor de telenovelas e programas especiais.

MUSSUM
Nome artístico de Antônio Carlos Bernardes Gomes, sambista e ator humorístico n. e f. no Rio, RJ. Depois de fazer parte do grupo musical Originais do Samba, iniciou carreira na TV como comediante, integrando o grupo Os Trapalhões, com o qual estrelou durante vários anos um programa semanal na Rede Globo e fez cerca de 40 filmes dirigidos ao público infantil, todos de grande sucesso.

NÉLSON XAVIER
Ator brasileiro de cinema e televisão. Com carreira iniciada no teatro, foi um dos líderes do Teatro de Arena, em São Paulo, e do Teatro Opinião, no Rio, importantes iniciativas artísticas surgidas nos anos 60, no bojo do movimento nacionalista de produção cultural da época, empenhado na criação de uma arte comprometida com as transformações sociais. No cinema participou, entre outros filmes de Os Fuzis (1963), A Rainha Diaba (1974), Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) e Eles não Usam Black-Tie (1981). Na dramaturgia televisiva, tornou-se conhecido pela composição de tipos regionais, como sertanejos, pescadores, cangaceiros, malandros, etc., em personagens de grande densidade, como o Lampião da famosa minissérie da Rede Globo dos anos 80.

RUTH DE SOUZA
Atriz n. no Rio e radicada em MG, até os 9 anos de idade. Com carreira iniciada em 1945 no Teatro Experimental do Negro e estreando no cinema em 1948, participou de mais de 25 filmes, 30 telenovelas e 20 peças teatrais, além de seriados e especiais de TV. Uma das primeiras atrizes afro-brasileiras a representar no Teatro Municipal do Rio, estudou teatro e foi assistente de direção nos Estados Unidos. Em 1954 concorreu ao prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival de Veneza, por sua atuação no filme Sinhá Moça, perdendo por dois votos para a americana Lili Palmer. Em 1987 retornou às telas em Jubiabá, de Nélson Pereira dos Santos, depois de uma ausência de vinte anos (sua última aparição fora em O Homem Nú, de 1967). Em 1988 recebeu do Governo brasileiro diploma e insígnias como comendadora da Ordem do Rio Branco, por sua contribuição à arte brasileira. Integra o elenco de dramaturgia da Rede Globo de Televisão.

TONY TORNADO
Nome artístico do ator e cantor brasileiro Antônio Viana Gomes, n. em Mirante de Paranapanema, SP. No final dos anos 50, já no Rio, inicia carreira artística na cena do rock and roll, sob o pseudônimo de Tony Checker. Pouco depois ingressa no grupo de danças folclóricas Brasiliana, com a qual viaja pela Europa. De volta ao Brasil, nos fins dos anos 60, ganha popularidade como intérprete de soul music, destacando-se com forte impacto, no 5° Festival Internacional da Canção.
Em 1972 participa, já como ator, da minissérie Jerônimo, na extinta TV Tupi e, depois de um curso de arte dramática, enceta carreira de ator, primeiro em programas humorísticos e depois em telenovelas e minisséries. Suas caracterizações, no cinema, como o Ganga Zumba no filme Quilombo de Cacá Diegues e, na Rede Globo de Televisão, como o Rodésio da novela Roque Santeiro e o Gregório Fortunato da minissérie Agosto, guindaram-no, definitivamente, ao patamar dos grandes atores brasileiros.

ZÓZIMO BULBUL
Ator e diretor cinematográfico n. no Rio de Janeiro, RJ. Roteirizou, dirigiu e interpretou Alma no Olho(1976);escreveu e dirigiu Dia de Alforria(1981); trabalhou como ator, entre outras produções, em Compasso de Espera (1973), onde protagonizou o personagem principal um poeta negro às voltas com problemas existenciais motivados pelo racismo; Sagarana (1973); Pureza Proibida (1974);A Deusa Negra (1979). Ainda nos anos 70, no teatro, personificou Orfeu da Conceição, na segunda montagem carioca. Em 1988 realizou, com apoio do Ministério da Cultura, o elogiado documentário Abolição, produzido no âmbito das comemorações e reflexões sobre o centenário do fim da escravidão no Brasil.

ZEZÉ MOTTA
Nome artístico de Maria José Motta de Oliveira, atriz e cantora n. em Campos,RJ. Com carreira profissional iniciada em 1966, no elenco da peça Roda Viva, atuou, com destaque, em importantes montagens teatrais, filmes - como Cordão de Ouro (1977), A Força de Xangô (1977), Águia na Cabeça(1983), Jubiabá (1986), Anjos
da Noite (1987) - e telenovelas.

A partir de 1979 encetou, paralelamente, discográfica como intérprete de música popular. Integra o elenco de teledramaturgia da Rede Globo de Televisão, participando, em 98, da telenovela Corpo Dourado. Artista de múltiplos talentos, sua imagem pública continua, até hoje, alegremente vinculada ao filme Xica da Silva (1976), que viveu com grande intensidade e sucesso.

(*) Advogado, escritor, pesquisador, músico, compositor e (claro!) sambista de Vila Isabel. O texto foi escrito originalmente para o site www.cidan.org.br (você pode acessá-lo diretamente clicando em CIDAN, na barra de LINKS à direita.

domingo, novembro 13, 2005

DICAS DE FILMES, LIVROS E PROGRAMAS DE TV:

A seleção foi feita com base nos temas abordados durante as aulas de Atualidades (Cidadania e Direitos Humanos), ministradas entre março e meados de novembro de 2005 aos alunos do Cursinho Pré-Vestibular Comunitário Griot - 20 de Novembro.

FILMES:

Farenheit 451 – DIRETOR: Françoise Traffaut
Desaparecido – Costa Gravas (c/ Jack Lemon)
A Batalha de Argel – Gillo Pontecorvo
Diários de motocicleta – Walter Salles Jr.
Adeus Lênin – Wolfganger Becker
O Carteiro e o poeta – Michael Radford
Amazônia em chamas – John Frankenheimer (c/ Raul Julia)
Fritzcarraldo, O preço de um sonho – Werner Herzog
Gaijin I e II – Tizuka Yamasaki
Terra Estrangeira – Walter Salles Jr.
Maria cheia de graça – Joshua Marston
O homem que virou suco – João Batista de Andrade
A missão – Rolland Joffé
Má Educação – Pedro Almodóvar
Lutero, o filme – Joseph Fiennes
A Queda, as últimas horas de Hitler – Oliver Hirschbiegel
Queimada – Gillo Pontecorvo
Sargento Getúlio – Hermanno Penna
Mauá o imperador do rei – Sérgio Rezende
Coronel Delmiro Gouveia – Geraldo Serno
Guerra de Canudos – Sérgio Rezende
Piratas do Vale do Silício – Djan Marsiglia
Gandhi – Sir Richard Attenborough
Um Grito de liberdade – Sir Richard Attenborough
Tiros em Columbine – Michael Moore
Amor sem fronteiras – John Frankenheimer (c/ Angelina Jolie)
Quanto é o é por quilo – Sérgio Bianchi
Hotel Ruanda – Terry George
Pão e Rosas – Ken Loach
Advinhe quem vem para jantar – c/ Sidney Poitier
Do Que elas gostam – c/ Mel Gibson
Casamento Indiano - Mira Nair
Filhas do Vento – Joel Zito de Araújo
Círculo de Fogo – Jean-Jacques Annaud
Território Comanche – Gerardo Herrero
Chefe (CEO)– Wu Tianming
Justiça Vermelha – Richard Gere
Vera Drake – Mike Leigh
Regras da Vida – Lasse Hallström
Fuga para a vitória – John Huston
Meninos do Brasil –
O Casamento de Romeu e Julieta – Bruno Barreto
A Ilha – Michael Bay
Gattaca – Andrew Niccol
A Ilha do Dr° Moreau – John Frankenheimer
A Felicidade não se compra – Frank Capra
Felicidade – Todd Solondz
Escola de Rock – Richard Linklater
The Eye, a herança – Pang Chang Yu
Um Ato de coragem – Nick Cassavetes
21 Gramas – Alejandro González-Iñárritu
Encouraçado Potemkin - Sergei Eisenstein
Carmen Jones - Otto Prerninger
Carmen - Carlos Saura
Carmen - Jean-Luc Godard

LIVROS:
A Sangue frio – AUTOR: Truman Capote
A Negação do Brasil – Joel Zito de Araújo
O Povo brasileiro – Isa Grinspum Ferraz
Enciclopédia Brasileira da Diápora Negra – Nei Lopes
O Nome da rosa – Humberto Eco
Tornar-se negro – Neusa Santos Souza
Rebelião escrava no Brasil – João José Reis
Veias abertas da América Latina – Eduardo Galeano
Tear africano – Henrique Cunha Jr.
A Insustentável leveza do ser – Milan Kundera
Cabeça de Turco – Günther Wallraff
A Arte da guerra – Sun Tzu
Farenheit 451 – Ray Bradbury
A Persistência dos deuses: religião, cultura e natureza – Eduardo Rodrigues da Cruz
Esperando um coração – (informações no site www.adote.org.br)
Adolescente: Quem ama educa! -Içami Tiba
O Evangelho segundo Jesus Cristo - José Saramago
Guerra Civil (Estado e Trauma) - Luís Mir

NA TELINHA:
Manhattan Connetion – EMISSORA: GNT (emissora a cabo - domingo e 2ª feira)
Roda Viva – TV Cultura (2ª feira)
Observatório da Imprensa – TV Cultura (3ª feira)
Globo Rural – TV Globo (diário) e Globonews (emissora a cabo - Domingo)

Plantão Médico – Warner (emissora a cabo)
PEGN - Canal Futura (emissora a cabo - 2ª feira)
Entrelinhas - TV Cultura (diário)
Sue Johanson - GNT (emissora a cabo - 3ª e 5ª feira)
Cidade dos Homens - TV Globo (6ª feira - até 16/12/2005)
Negros em foco - RBI - Rede Brasileira de Informação - canal 14 - (emissora em UHF -Domingo e 4ª feira)

sexta-feira, novembro 11, 2005

ENTREVISTA: A SOCIEDADE DA CULPA

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Paul Flatters, da Future Foundation, diz que a ascensão do “Estado-Babá” pode atingir níveis de coerção inéditos ao legitimar a ansiedade demonstrada pelos indivíduos


Daniel Buarque (*)

A notícia é má para quem gosta de beber, fumar, comer comidas gordurosas, praticar esportes perigosos e até assistir à televisão ou tomar banho de sol: há uma marcha crescente do "puritanismo" e uma tendência cada vez maior de um "ataque ao prazer", proibindo ou regulamentando as atividades que proporcionam satisfação ao indivíduo na sociedade. Essa é a conclusão de um abrangente estudo cuja versão preliminar acaba de ser publicada no Reino Unido pela Future Foundation, organização que monitora e analisa tendências sociais.
Em entrevista à Folha, o diretor-executivo da fundação e ex-chefe de análise e pesquisas da BBC, Paul Flatters, aponta que o "novo puritanismo" não é uma tendência conservadora do ponto de vista sexual, mas um controle público e legal sobre o comportamento social e mercadológico de consumidores, evitando todo tipo de atividade de "risco".
A tendência ao autocontrole e à correção social acaba por influenciar o próprio Estado a impor restrições, levando-o a ser considerado uma "babá" da sociedade -"nanny state", em inglês-, criando um processo de mão dupla.
A Future Foundation, que faz estudos de mercado para empresas como a Eletrolux, a Microsoft, instituições governamentais e ONG ouviu cerca de mil pessoas na Inglaterra e constatou que um percentual muito similar dos entrevistados, cerca de 70%, acha que o governo deve cuidar tanto das finanças da nação quanto da regulamentação do consumo de álcool.
Mais de um terço deles concorda em que se deve pensar duas vezes antes de dar chocolates como presentes, e 45% acham que o governo deveria proibir a colocação de máquinas para a venda de doces em hospitais e escolas.
Do controle do uso de drogas passa-se à regulamentação de velocidade nas ruas e estradas, proibição e restrição do consumo de álcool, cigarro e até mesmo de chocolates. Para Flatters, dentro de cinco anos a influência e o poder de regulamentação do Estado deverá controlar até o consumo de doces, atividades de tiro esportivo, o modo de assistir à TV e a ingestão de sanduíches de bacon.
Na entrevista abaixo, Flatters explica as formas como surgem e como se comportam o que ele chama de "novos puritanos", pessoas que, segundo ele, passam a achar intolerável viver com o risco, a incerteza, e passam a querer tudo controlado.
Pessoalmente, Flatters se diz favorável a muitas das restrições discutidas individualmente, mas se mostra preocupado com a tendência de muitas delas serem aprovadas em conjunto e passarem a controlar quase todos as possibilidades de ação dos indivíduos.

Folha - Como surgiu a pesquisa que vocês dizem apontar a existência de um "novo puritanismo"?
Paul Flatters - Como fazemos com uma certa freqüência, buscamos as idéias baseadas em outros dados de pesquisas. Percebemos que havia essa nova tendência crescente, segundo a qual as pessoas procuram restringir qualquer mercado em que haja elementos relacionados ao prazer. Estamos numa fase inicial da pesquisa, mas que nos fornece elementos para comprovar que há, sim, essa tendência, que afeta a sociedade e o mercado. A pesquisa ainda deve se estender até o próximo ano para consolidarmos os dados e tirarmos conclusões, mas já conseguimos informações bastante interessantes.

Folha - Quais foram as principais conclusões do estudo?
Flatters - Nossa descoberta-chave foi a de que muitas coisas que costumávamos tolerar e aceitar como comportamentos completamente normais na sociedade estão começando a sofrer restrições por serem vistos como causadores de riscos para outras pessoas.
Por exemplo, tem sido dada muita atenção à dieta das pessoas, à disponibilidade de fast-foods, comidas gordurosas e outras coisas do tipo, com as quais nunca havíamos nos preocupado antes. Para completar, obesidade e sobrepeso estão se tornando assuntos de saúde pública. É uma combinação de preocupação pessoal com a saúde e a segurança mas também a vontade de limitar o comportamento alheio, jogando a responsabilidade nas costas do Estado.

Folha - E por que isso acontece?
Flatters - Por uma série de fatores. Em primeiro lugar, há o fato de que as pessoas estão cada vez mais ansiosas, entre outras coisas, com a saúde. Isso as leva a se comportarem de forma cada vez mais irracional. Acho que também há um apetite crescente por assuntos novos. Aqui na Inglaterra a economia vai muito bem, as pessoas estão mais ricas do que em qualquer outra época da história e, dessa forma, buscam novas preocupações, que não apenas o dinheiro.

Folha - Então é um problema típico de países ricos e desenvolvidos?
Flatters - Não sei responder, na verdade, já que a pesquisa foi realizada apenas na Inglaterra. Mas, a partir dessa pesquisa, posso afirmar que o interesse por esses temas cresce quando a economia também cresce.

Folha - O sr. diria que há alguma influência da mentalidade norte-americana nesse tipo de comportamento dos ingleses?
Flatters - Sim, acho que há. Uma das coisas que percebemos é que a Inglaterra está importando dos EUA essa cultura da compensação. Não há mais a idéia de que acidentes não acontecem e de que ninguém é culpado pelas coisas que dão errado; agora, ao contrário, há uma forte tendência em procurar jogar a culpa em alguém sempre que algo não dá certo. Surgem organizações fora da esfera pública que buscam zerar a possibilidade de as pessoas provocarem danos a si mesmas pelo consumo de determinados produtos. Esses tipos de comportamento e de cultura são muito claros nos EUA e parecem estar chegando com força à Inglaterra.

Folha - Essa tendência à restrição das liberdades tem a ver com aquela imposta nos Estados Unidos depois do 11 de Setembro?
Flatters - Acho que há um pouco disso, sim. O terrorismo sem dúvida aumentou a preocupação e a paranóia da sociedade, impulsionando a tendência à regulamentação e às restrições à liberdade. Mas acho que se trata de um problema mais amplo, que era importante nos EUA mesmo antes do 11 de Setembro, como a proibição do fumo em locais públicos e coisas do tipo. Os atentados terroristas provavelmente aceleraram todo o processo, mas não foram sua causa isolada. Esse processo é anterior.

Folha - Podemos comparar esse processo com a febre do "politicamente correto"?
Flatters - Acho que os dois estão muito ligados, mas não de forma óbvia. Trata-se de um declínio da tolerância em relação ao comportamento de outras pessoas. De certo modo, é o declínio da tolerância para com comportamentos diversos, é a intolerância para com pessoas que querem viver um estilo de vida alternativo, que pode vir a ser nocivo para sua saúde. Aceita-se menos isso. Até certo ponto, podemos dizer que isso é o oposto do politicamente correto, já que este último, acredito, é a incapacidade de criticar qualquer grupo minoritário. Esse processo de que falamos é o contrário, pois ataca grupos centrais da sociedade, caso seu comportamento seja considerado pouco saudável, ruim como política pública, ameaçador para outras pessoas.

Folha - Não é difícil realizar um estudo crítico como esse, se considerarmos que as pessoas que querem impor essas restrições públicas na verdade pretendem apenas proteger os indivíduos?
Flatters - Talvez seja verdade. O ponto que queremos deixar claro é que não é errado ter uma preocupação com o bem-estar da sociedade. Item por item, a opção pelos limites parece bem aceitável. Eu mesmo concordo com muitas das coisas que acontecem. Não sou fumante e concordo, por exemplo, que o fumo deve ser cada vez mais restringido. Sou a favor, mas esse não é o ponto. O que queremos sublinhar é que, se cada uma dessas novas peças de regulamentação for oficializada, por mais que cada uma delas seja aceitável individualmente, ao reuni-las, estamos gradualmente mudando o mundo. Se todas as restrições e limitações que estão sendo defendidas por grupos específicos forem aprovadas na velocidade em que está ocorrendo, em dez anos não haverá nenhuma parte da legislação intocada. Claro que podemos dizer que as pessoas que defendem essas regulamentações estão apenas tentando proteger a sociedade, mas há uma linha tênue entre as duas coisas. Às vezes podemos proteger pessoas com medidas que acabam tendo efeitos negativos na vida coletiva da sociedade.
Dou um exemplo: é cada vez mais difícil para as escolas inglesas conseguirem seguro para levar as crianças em passeios de férias. É um tema constante no país há mais de 15 anos. Levar as crianças para a natureza, para praticar esportes, esse tipo de coisa, está muito difícil porque as seguradoras não sentem segurança para se responsabilizarem por esse tipo de atividade, e o resultado é que as crianças estão perdendo em diversão e em conhecimento.
Claro que a preocupação é correta e há algum risco nesse tipo de atividade, mas o resultado é que as crianças são simplesmente alijadas desse tipo de experiência. As preocupações com a saúde e a felicidade são positivas, mas algumas das conseqüências das ações de regulamentação acabam funcionando de forma contrária, afetando, desse modo, a qualidade de vida das pessoas.

Folha - Há efeitos econômicos envolvidos nessas restrições?
Flatters - Claro que, se algumas dessas regulamentações realmente forem aprovadas, muitos setores da economia irão sofrer. O turismo vai perder, os setores associados ao lazer, como um todo. O próprio McDonalds tem tido reduções nas vendas e nos lucros na Inglaterra a cada ano. Isso cria, do ponto de vista econômico, uma diminuição no bem-estar da sociedade.

Folha - Como podemos distinguir a preocupação com o bem-estar social do "neopuritanismo"?
Flatters - É muito difícil. O problema é que há indivíduos que escolhem os temas a respeito dos quais são muito tolerantes ou pouco tolerantes. As pessoas são muito interessadas em proteger sua própria liberdade. Se gosto de fumar e beber, quero que esses meus hábitos sejam tão livres quanto possível, mas sou mais duro com outros hábitos que não tenho. Essa é uma das grandes dificuldades, pois cada indivíduo só quer regular e limitar as atividades daquilo de que não gosta, mas, ao contrário, proteger os próprios hábitos. A linha é muito difícil de ser traçada, e se trata de um tema ainda muito pouco estudado.

Folha - Quais são as possíveis conseqüências desse cenário de extrema regulamentação e restrição de consumo?
Flatters - Certamente o "Estado-babá", mas potencialmente algo mais profundo, sério e disseminado pela sociedade, algo mais próximo de um "Grande Irmão", que controla todos os movimentos de cada indivíduo da sociedade.

(*) Entrevista publicada no jornal Folha de S.Paulo no caderno Mais, de outubro de 2005

sexta-feira, novembro 04, 2005

MATEMÁTICA

UMA PROGRESSÃO GEOMÉTRICA MUITO ESPECIAL

Luiz Netto(*)

Quando no estudo da matemática nos deparamos com algum tópico que podemos visualizar uma aplicação prática, e para nossa felicidade, há muitos deles, se já apreciamos o seu estudo, isto reforça ainda mais nosso interesse, pois afinal aquilo que é produto exclusivo da inteligência do homem, a matemática, encontra um modelo prático que represente o que era produto da inteligência, da imaginação. Assim, quando estudamos a matemática da música, em seus vários aspectos, como por exemplo, na análise das sequências das notas sonoras da escala musical igualmente temperada, nos damos conta que os valores das frequências das sequências de notas de uma oitava, formam uma PROGRESSÃO GEOMÉTRICA, cuja razão é igual a dois elevado a um doze avos.



Eu teria gostado muitíssimo em minha época de estudante que meus professores me houvessem chamado atenção para este fato, para essa progressão especial, que fala de algo que não há ser humano que não goste: A Música. Assim, além de descobrir algo novo, teria aumentado ainda mais o meu interesse pelo seu estudo. Mas... as vezes acho que poucos deles sabiam disso... porque claro está que na medida que mostramos as múltiplas utilidades dos estudos de matemática, aumenta o interesse do aluno e deixaríamos de ouvir de muitos estudantes: Não gosto de matemática... ! - quando na verdade estão expressando que não gostam é daquilo que não compreendem e comprender certas coisas - depende muito da didática daqueles que nos ensinam! Mas, deixemos um pouco de lado dessa filosofia pedagógica, e voltemos para a nossa progressão geométrica.
Assim, podemos imaginar essa progressão geométrica com o primeiro termo igual a unidade, e os termos subsequentes obtidos atraves das multiplicações sucessivas por 1,0594631:



Vemos aqui uma sequência de 13 têrmos dessa progressão geométrica que representa a sequência das notas da escala musical igualmente temperada pois 12 são seus intervalos musicais compondo uma oitava. O número 2, sobre o número 1,0594631 corresponde ao primeiro intervalo. O décimo terceiro termo já pertence à próxima oitava, ou seja se você começa por exemplo pela nota do - (1), quando tiver subido uma oitava, a frequência dessa nota será o dobro - (2). Assim, se a nota escolhida for a nota LA2, que sabemos tem uma frequência de 220 Hz, quando tivermos percorrido a oitava toda, a frequência será de 440 Hz.
Exemplificando, para a nota La2: É só multiplicarmos todos estes números da sequência da PG por 220: 220*1 - 220*1.0594631 - 220*1,1224621 e teremos a sequência:

220 - 233,08 - 246,94 - 261,62 - 277,18264 - 293,66478 - 311,124 - 329,62756 - 349.22824 - 369,9944 - 391,99541 - 415,30471 - 440, notas estas que são:
la2 - la# - si - do - do# - re - re# - mi - fa - fa# - Sol - sol# - La3

OUTRA PROGRESSÃO GEOMÉTRICA MUITO ESPECIALO leitor poderá indagar o que poderia representar uma progressão geométrica cujos termos fossem formados pelo inverso dessa razão, ou seja: 1/(1.0594631)^n, ou seja o primeiro termo como 1 e os outros obtidos pela multipicação por essa razão.

Então teríamos para o primeiro termo, o inverso de 1 que é um mesmo, para o segundo termo,

para o terceiro termo o inverso de 1,1224621, para o quarto termo, o inverso de 1,189 2071, e assim sucessivamente, formando a seguinte sequência de têrmos:
1 - 0,9438743 - 0,8908987 - 0,8408964 - 0,7937005 - 0,7491535 - 0,7071067 - 0,6674198 - 0,6299604 - 0,5946035 - 0,5612309 - 0,5297314 - 0,5..... etc.

Mas o que esta sequência de números podem representar? - Estas sequências de números podem representar os comprimentos das cordas que percurtimos para obter as várias frequências da progressão geométrica de razão 1.0594631. Vejam a figura abaixo, o instrumento violão, onde aparecem todos esses números. Você pode escolher então como primeiro termo de sua progressão geométrica, inversa daquela primeira que estudamos, como sendo o comprimento das distâncias entre as cordas soltas do instrumento e assim obterá todas as distancias das cordas que correspondem as frequências obtidas, multiplicando seguinda pela razão: 0,9438743. Não é mesmo espetacular? ...Hein? Então, a matemática é algo para ser estudado com muito carinho, devagar, sem pressa, com reflexão, porque uma vez entendido algo, e bem entendido, esse entendimento traz uma grande satisfação interior, qual seja; O SABER, e uma outra maior ainda, poder ensinar aquilo que foi entendido.





À Circunferência mais externa do lado das frequências, corresponde a circunferência
mais interna do lado do Comprimento das Cordas - Quanto mais alta é a frequência
menor é o comprimento da corda que produz sua vibração. Repare que embora os
invervalos sejam iguais, eles vão ocupando espaços cada vez maiores do lado das
frequências e o inverso ocorre do lado do comprimento das cordas.








(*)Graduado pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Santo André - SP - Brasil

quarta-feira, novembro 02, 2005

ARTIGO

INCLUSÃO SOCIAL E O PROTAGONISMO COMUNITÁRIO

Por Anderson Nogueira (*)

“Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio”. Há cerca de três anos, eu e alguns amigos encaramos um desafio, montar um curso pré-vestibular comunitário para afrodescendentes e carentes. No começo, não tínhamos idéia do que nos esperava, estávamos em duas ou três pessoas, com uma idéia na cabeça e muita vontade de fazer algo relacionado à inclusão social. Participamos de algumas reuniões na sede do Educafro, ONG que gerencia uma rede de núcleos de cursinhos voltados a negros e carentes, e tivemos orientações de como formar uma estrutura para atender os alunos.Em janeiro de 2003, metemos as caras. Reunimos mais uma dúzia de pessoas do nosso meio, muitos participavam de movimentos da igreja católica e dessa certa forma já estavam engajados em alguma causa. A princípio parecia tudo muito bom, e realmente era.

Rapidamente conseguimos o espaço para dar aulas, uma escola municipal no bairro Parque São Lucas, com segurança, lanche, enfim, toda infra-estrutura que buscávamos. Faltavam somente os alunos. A divulgação foi feita em escolas públicas, obtivemos um bom retorno e montamos - todos muito felizes! - a primeira turma, com cerca de 40 alunos.

A partir de então, começou o trabalho para valer, muito trabalho. Apesar de voluntários, a cobrança por parte dos professores, alunos e funcionários da escola com relação ao projeto era a de um desempenho profissional. Isso nos trouxe uma maior gana para nos empenhar cada vez mais, buscando aprimorar a qualidade do curso e motivar os alunos, que muitas vezes chegavam à sala de aula com a auto-estima mais baixa que o salário que recebiam para trabalhar de segunda a sábado numa loja que ficava do outro lado da cidade ou numa casa de família, cuidando de crianças. Apesar das dificuldades, em 2003 tivemos resultados bastante positivos. Muitos alunos conseguiram vagas em faculdades privadas, com bolsas de estudo de até 100% concedida pelo Educafro e ainda dois alunos passaram em universidades públicas, na UNESP e na USP, uma vitória muito grande do nosso núcleo.

No entanto, muitos dos voluntários não tinham idéia da dimensão de todo aquele projeto, da situação humilhante a que foi renegada a população afrodescendente, que embora ainda busque cotas em universidades, não precisa de maneira alguma dessa mesma luta dentro dos presídios, nas favelas e nas esquinas para dormirem ao relento. Muitos dos que estavam engajados no projeto não percebiam ainda que a lei Áurea foi como aquela história do escravo e do senhor que andavam pelo deserto há dias e como só tinham um cantil de água o senhor foi misericordioso e disse ao servo "estás livre, não és mais meu servo".

Por outro lado, percebemos também que haviam alunos que estavam ali somente para ter uma companhia à noite, que não estavam preocupados com a nossa proposta de inclusão na universidade, que para um deficiente é mais importante ter um espaço em uma escola do que na maca de um hospital, e que a universidade é um sonho muito maior para quem já passou dos 40 do que para quem ainda nem chegou nos 20, só assim a realidade parecia real.

E nosso núcleo continuou o trabalho, porém o número de voluntários saindo sempre era bem maior daqueles que entravam. Além disso, a evasão de alunos também começou a ser tornar cada vez maior, por vários motivos, por exemplo: falta de motivação para os estudos, mesmo quando os professores tentam expor a importância do aprimoramento intelectual; falta de emprego; dificuldades familiares; deficiências do próprio núcleo, como falta de voluntários o que acaba por desestimular quem já tem que matar não só um leão, mas uma selva para chegar ali.

Já se passaram quase três anos e muito de nossas vidas ali, e hoje em dia, infelizmente, nosso núcleo já não mais consegue a mesma quantidade de voluntários ou de alunos que tínhamos no começo. Com pesar constatamos que o núcleo do Parque São Lucas está dando os últimos suspiros Talvez no ano que vem nem venha a funcionar, devido a nossa falta de braços, pernas e cabeças. Mas, como dizia Hipócrates, "na segunda vez, não é a mesma pessoa nem o mesmo rio".

(*) Anderson Nogueira, coordenador do núcleo Educafro Parque São Lucas e estudante do curso de graduação em Ciências Sociais.